quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Loser nunca mais

Ele vê a página em branco novamente. A estrada longa e cheia de buracos. É difícil retornar agora. É engolir a seco o que passou enquanto Mississipi rola no rádio do velho carro. Sempre gostou dessa canção. “Stayed in Mississipi a day too long”. Um velho amigo seu o aconselhou “escuta isso que é bom”. Hora de pegar a estrada, novo rumo e só na cidade seguinte parar e pensar! Acender um cigarro enquanto junta os cacos que sobraram da noite passada em que quase viu o céu desabar e a sorte parar de flertar com seu copo de cerveja. Um quase quebra-pau no bar, um quase sopro de chuva no ar, sempre um “quase”. Lembrou dos textos e o quanto o chamaram de loser. Prendeu a respiração por um segundo e após isso sente (e confessa) vontade de esbofetear todos esses enquanto alguém lá em cima lança raios sobre sua cabeça e diz: Essa noite não! Já não tem mais lar, emprego, mas ainda sobrou alguma coisa e nisso ele se apega e não vê outra maneira de refazer as coisas a não ser quebrar o concreto velho e construir sobre chão fértil. Não se vê refazendo nada, ele quer coisas novas, anseia por isso, “sangue novo” como a gente diz quando alguém entra numa banda. É como uma velha letra de música inacabada que a gente encontra no meio dos cadernos com folhas amareladas pelo tempo. Olha e pensa que dalí ainda pode sair alguma coisa. E sim! Sempre pode sair alguma coisa - o velho: aprender com o que passou. Joga uma palavra fora, troca um verbo por outro e refaz a melodia por que já não lembra mais.
Hora de se refazer. Pegar a estrada para um lugar qualquer. Loser nunca mais.